Punts – Concussão
O assunto mais quente do esporte nos últimos anos é uma ameaça séria à sua continuidade, na forma como conhecemos hoje.
Espera-se um pronunciamento da justiça no próximo dia 22, sobre um processo coletivo movido por ex jogadores contra a NFL.
Mas o que exatamente é uma concussão?
Qual o impacto na NFL e no esporte como um todo?
O que tem sido feito para aumentar a proteção dos atletas?
Vamos analisar essas questões e outras considerações importantes.
Análise Médica
Concussão é definida como uma lesão traumática capaz de alterar as funções do cérebro.
A maioria dos casos de concussão são leves e passageiros e permitem que a pessoa se recupere completamente, porém concussões mais graves podem causar danos neurológicos permanentes mais graves, especialmente, se acontecem repetidas vezes, como é o caso de atletas que praticam esportes de impacto.
O cérebro humano é um órgão muito especializado responsável por inúmeras funções no nosso corpo. Este órgão tão importante, que tem a consistência semelhante a de uma gelatina, fica protegido dentro de uma caixa óssea, o crânio.
Entre o cérebro e a caixa craniana existe um sistema hidráulico composto pelas meninges e líquido cerebroespinhal, que amortece os impactos desta gelatina contra a rigidez do seu invólucro ósseo. Este colchão hidráulico é capaz de absorver a maioria dos traumas menores que podem acontecer durante a vida normal de uma pessoa.
A concussão, no entanto, acontece quando há um impacto violento na cabeça ou uma rápida ou aceleração/desaceleração que é capaz de fazer com que o cérebro se desloque, sendo literalmente chacoalhado dentro da caixa craniana.
Em concussões muito graves pode haver hemorragia cerebral, quadro que necessita de intervenção médica imediata.
Os sintomas agudos da concussão são muito variados mais geralmente incluem um ou mais de um das situações abaixo:
1 – Perda temporária da consciência
2 – Dores de cabeça ou pressão na cabeça
3 – Amnésia, principalmente em relação ao evento traumático
4 – Confusão
5 – Tontura
6 – Náusea e vômitos
7 – Zumbido no ouvido
8 – Dificuldades na articulação de palavras
Pessoas que sofrem concussão devem permanecer em repouso evitando atividades vigorosas para deixar que o cérebro se recupere da lesão causada. Atletas devem ser avaliados cuidadosamente e, em casos mais graves, devem ficar internados no hospital para observação. O retorno à prática esportiva só deve ser permitido após os sintomas de concussão terem desaparecidos por completo.
As complicações de concussão, geralmente representam um dano permanente e irreversível ao tecido cerebral podem incluir:
1- Epilepsia: Estudos mostram que uma pessoa que sofre uma concussão tem o dobro de chance de desenvolver epilepsia nos primeiros cinco anos após o trauma
2 – Efeitos cumulativos de sucessivas lesões cerebrais. Existem evidências científicas de pessoas que sofreram múltiplas concussões ao longo da vida tem maior probabilidade de desenvolver limitações cognitivas, doenças neurodegenerativas e depressão.
3 – Síndrome do segundo impacto. Em alguns casos, sofrer um segundo trauma em um cérebro que ainda está se recuperando de um primeiro impacto, pode agravar o edema, o que pode ser fatal. Por isso, é recomendado que atletas somente retornem a suas atividades após todos os sinais e sintomas de concussão terem desaparecidos.
O trecho acima foi escrito por Wagner Soares (@WagnerASoares) – Neurofisiologista
Casos Relevantes
Dois recentes suicídios de ex jogadores alavancaram a discussão sobre os efeitos das pancadas na cabeça.
Junior Seau (ILB) craque que brilhou pelo San Diego Chargers, e no fim de carreira atuou pelos Dolphins e Patriots, e Dave Duerson (S), catalista do esquema defensivo 46, criado noChicago Bears. Esses casos chocaram a liga pelo vulto dos nomes.
Ambos vinham sofrendo com todos os sintomas descritos acima, agravados por depressão.
Mas o medo não é novo, já vimos alguns craques Quarterbacks como Steve Young (ex 49ers) e Troy Aikman (ex Cowboys), forçados por médicos particulares a abandonar a carreira antes que fosse tarde demais.
Kurt Warner (QB – ex Rams e Cardinals) tomou a mesma decisão 3 anos atrás.
Entre os jogadores em atividade, Jahvid Best (RB – Lions) está numa encruzilhada de sua jovem carreira. Encerra-a ou insiste na profissão?
Vale a pena lembrarmos de algo bastante comentado temporada passada. A opção de Jim Harbaugh (HC – 49ers) por Colin Kaepernick (QB) no lugar de Alex Smith (QB), depois que esse último desfalcou a equipe se recuperando de uma concussão.
Na época foi levantada a questão da mensagem. O medo de perder a vaga de titular pode levar a omissão de sintomas, o que é um risco para a integridade física dos atletas.
O Processo
Hoje mais de 4800 ex jogadores estão dentro de um processo coletivo contra a NFL.
Evidente que cada um é responsável por suas decisões pessoais. Então o que essas pessoas estão relamando?
A alegação é que a liga escondeu de seus atletas, estudos apontando sobre o risco de como repetidas concussões poderiam afetar suas vidas mais à frente.
Abaixo estão os pontos que suportariam esse caso:
Por muitas décadas os médicos já reconheciam esse efeito em lutadores de boxe.
Curiosamente, quando a NFL primeiro criou uma comissão para estudar as concussões (em 1994), nomearam um reumatologista como responsável, e não um neurologista. Isso indicaria o quão “sério” abordavam o caso.
Os primeiros reports desse estudo foram contra o que a comunidade médica vinha afirmando. Eles quase descartavam sérias consequências futuras das concussões.
Em 2002 universidades começaram a fazer autópsias nos cérebros de ex jogadores falecidos, e encontraram um excesso de proteínas estranho, não visto em outras pessoas. Isso foi informado à NFL.
Em 2007 a NFL imprimiu folhetos entregues aos jogadores, reafirmando que os estudos feitos não eram conclusivos, e que os problemas não deveriam afetá-los se suas concussões fossem devidamente tratadas.
Em 2009, o congresso americano questionou a validade dos estudos financiados pela NFL, comparando o caso ao da indústria de cigarros na década de 90.
Em 2010, a NFL muda de postura, e imprime posters alertando para o perigo de múltiplas concussões e seus efeitos no longo prazo.
Este não é o primeiro processo importante que a NFL enfrenta.
A família de Mike Webster (C), membro do HALL OF FAME que atuava pelo Pittsburgh Steelers, acusou a liga de não pagar os benefícios devidos a ele.
Webster faleceu em 2002 sofrendo de demência.
Em 2005, a corte americana deu razão à NFL, que só precisaria pagar tais benefícios, se a debilidade tivesse iniciado quando o jogador ainda estava em atividade.
Mudanças de Regra
Entre as providências que a NFL tem tomado para aumentar (ao menos a percepção) a segurança de seus atletas, está a mudança de algumas regras.
Às vezes radicais, quase sempre criticadas por atuais e ex jogadores, essas mudanças servem em 1º lugar como medidas cautelares. Mostrar à justiça e público americano que estão proativos no caso.
Os primeiros afetados foram os defensores, em especial da linha secundária, que passaram a ser penalizados por Tackles em que o contato é inicializado com o topo do capacete, ou em que se projetem sobre o adversário como um “míssil”, ou de força desproporcional no ombro pra cima dos recebedores, considerados desprotegidos.
Quarterbacks são poupados de pancadas também do ombro para cima, resguardando os jogadores mais valorizados dos elencos.
Nessa OFFSEASON, a comissão que estuda mudanças de regras, formada por dirigentes e HEAD COACHES de times, passou uma medida que desagradou a certos Running backs, que não poderão mais abaixar a cabeça antes do contato do defensor, (ultrapassada a linha de Scrimmage).
Particularmente, acho que a reação dos RBs foi míope, pois pouco afeta sua capacidade de ganhar jardas, e certamente evitará riscos desnecessários a seus próprios corpos.
Numa revisão de video, apenas 16 dessas faltas seriam marcadas em toda a temporada regular de 2012.
Mais medidas devem vir por aí nos próximos anos, causando uma preocupação justa sobre como será a dinâmica do jogo no futuro.
Perigos para a NFL
Dia 22 deve sair um pronunciamento da justiça americana sobre o caso, podendo tanto encerrá-lo por falta de base jurídica, ou reforçá-lo.
Se os ex jogadores vencerem nas diversas instâncias ainda por vir (deve levar algum tempo), o montante de indenizações seria grande demais até para uma organização tão lucrativa como aNFL.
Um outro aspecto a longo prazo está na diminuição de crianças e adolescentes praticando o esporte. Pais preocupados começam a repensar colocar seus filhos nas academias espalhadas pelos estados.
Isso pode diminuir o interesse do público no futuro, e restringir o talento disponível para os times.
Kurt Warner por exemplo, já afirmou: não permitirá que nenhum de seus vários filhos jogasse futebol americano.
O remédio pode ser um veneno ainda pior. Intensificar as mudanças de regra diminuindo o contato físico já se mostrou impopular.
Amantes do esporte, que já criticam a NFL pelas novas regras, que em sua visão atrapalham o jogo, também poderiam perder o interesse pelo produto.
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